quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Artistas de rua são expulsos da Paulista


O guitarrista Rafael Soares foi proibido por fiscais da prefeitura e policiais militares de tocar na calçada da avenida (FOTO: CLAYTON DE SOUZA/AE)

CAMILLA HADDAD
Músicos e artistas de rua estão sendo impedidos de se apresentar nas calçadas da Avenida Paulista. A proibição começou há pouco mais de um mês, quando a via passou a ser monitorada pela Operação Delegada – na qual policiais militares trabalham na folga para a Prefeitura com a missão de coibir o comércio ambulante irregular.
As estátuas-vivas e os tocadores de violão estão entre os mais atingidos, apesar de não venderem CD ou cobrarem por sua performance.
Na semana passada, o músico Marcio Aguiar, de 37 anos, imitava o cantor Raul Seixas quando foi abordado por um soldado, próximo à Alameda Casa Branca. “Ele me disse que eu não poderia colocar caixinha no chão (para receber contribuições do público)”, contou.
“Depois, veio uma tenente e falou que era a minha última chance antes que meu violão fosse apreendido.” Aguiar saiu do local e disse que o clima é de tensão. “Aqui sempre foi um corredor de arte. Agora virou da repressão.”
Com o professor de guitarra Rafael Pio, de 30, a situação foi mais complicada. O rapaz acabou preso e liberado no mesmo dia depois que teve sua guitarra e um amplificador que fica pendurado no corpo apreendidos por policiais.

 
 
Antes que o instrumento fosse colocado em uma Kombi da Prefeitura, o músico danificou o vidro do veículo, em 14 de outubro. “Falaram que eu não pagava imposto para ocupar a calçada do Center 3”, disse. “Na hora fiquei desesperado até ser levado para a delegacia.”
Por e-mail, a PM informou que as manifestações culturais podem ser exercidas em qualquer lugar e que respeita e garante os termos constitucionais. A corporação ressaltou que “quando há qualquer tipo de exploração comercial, caracteriza-se um evento e há a necessidade de autorização da Prefeitura, que é competente para disciplinar o uso e a ocupação do solo”.
No caso do guitarrista, a PM disse que o uso de amplificador descaracteriza a manifestação cultural e classifica seu ato como um evento. O mesmo ocorre com estátuas-vivas, que sugerem algum pagamento em dinheiro. Quando isso ocorre, a PM disse que apreende e lacra os objetos – que podem ser retirados depois.
Para o secretário-geral da Associação das Estátuas-Vivas, Marcello Zago, a atuação das estátuas não requer autorização, como ocorre com os camelôs.
Três PMs da Paulista disseram ao JT que as rodas de pessoas que se formam em torno do artistas facilitam crimes como furtos e estelionato. Procurada cinco vezes, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras disse por telefone que artistas com amplificador precisam de autorização. Sobre os demais, a pasta disse não haver proibição.

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